A diferença entre a psicanálise lacaniana e as demais terapias está na radicalidade com que ela privilegia a ética do desejo inconsciente e o desejo do analista na experiência de uma análise.
Busca, portanto, implicar a singularidade da pessoa em relação ao seu desejo, é um convite a saída da moral, dos costumes e, dos ideais de adaptação da realidade para entrada em outra cena, na lógica do inconsciente. A psicanálise é um modo de agir pautado na singularidade e não em uma moral registrada em costumes e comportamentos externos. Parte do principio que todo ser humano tem algum mal estar, sente e faz coisas estranhas. Por essa razão, postula que o caminho para tratar dessas “esquisitices” é pautar se em algo específico que não se encaixa em modelo de tratamento e privilegia o que há de mais próprio àquele que demanda um tratamento: o inconsciente.
O inconsciente e a expressão dessa esquisitice singular e a psicanálise uma forma de lidar com ela, sem transforma-lá.
As terapias e a psicanálise tem em comum o tratamento por meio da palavra, mais a diferença fundamental entre elas se estabelece na forma como a palavra é trabalhada em cada uma dessas áreas. Essa foi a descoberta de Freud que percebeu que o corpo responde as palavras, é tocado por ela, de modo que as palavras alteram e subvertem as leis do funcionamento fisiológico do corpo.
Como nos mostrou Freud o inconsciente é um aparelho de linguagem que se expressa nas formações tais como os sonhos, os sintomas, os esquecimentos, os atos falhos e os ditos espirituosos, os quais trazem a marca de uma estranheza. É justamente essa estranheza que reflete o descompasso do sujeito dividido entre o que julga querer e o que deseja. Assim, o desejo, é sem objeto e na sua estrutura insatisfeito. O inconsciente é a marca desse desacerto e o desejo é o seu produto.
Fonte: “Psicanálise: a clínica do Real/Jorge Forbes; Claudia Riolfi (org.)’